segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Kiwis não têm sentimentos...


Se tem uma coisa que me deixa extremamente machucada é quando me chamam de fria... Mas o grande problema é demonstrar que esse fato me machuca. Não conseguir externar o que sinto é o meu pior defeito, tento corrigi-lo, mas sem sucesso. Pode ser que a criação tenha me feito assim, as circunstâncias da vida, vidas passadas, meu signo, meu ascendente, minha lua... Independente do porquê, sei que é algo que me incomoda. A não demonstração do que sinto não interfere no semblante, mas corrói por dentro, uma dor que ultrapassa qualquer outra dor que eu já tenha sentido, e olha que de dor física eu realmente entendo.

Meu jeito racional de demonstrar é inversamente proporcional ao de sentir. Acontecimentos onde qualquer um estaria chorando e demonstrando como estão machucados, é quando solto o meu famoso “Ahan... Tudo bem”, mesmo estando ferida por dentro, mesmo que a vontade seja de abraçar e explicar. Esses momentos, quando consigo chorar, gritar, soluçar ou, simplesmente conversar, são escondidos, solitários, momentos esses que só eu e meu travesseiro conhecemos. Quanto mais parecer que está tudo bem, mais o emocional está em pedaços, ou melhor, farelos impossíveis de se juntar e montar igual. Na minha cabeça esse jeito de ser baseia-se na reconstrução incessante, onde cada acontecimento me faz tentar juntar meus farelos de uma forma diferente, de um jeito que não doa tanto, usando atitudes diferentes como liga e tentando moldar essa massa de "eu mesma". Cabe a mim descobrir se realmente esse estilo de vida emocional algum dia funcionará, se um dia encontrarei os sentimentos que darão a liga no ponto certo. Resumindo, o meu emocional se abala quanto mais a minha cara mostrar que está tudo bem... Se bem que a cara não responderá da mesma forma que o restante do corpo.

Ninguém nunca me perguntou por que sou magra de doer, por que tive problema de saúde tão nova e, apesar de já ter quase certeza do motivo, nem que me perguntassem eu responderia, até porque eu não demonstro, esqueceram? Mas, generalizando, sem citar nomes nem acontecimentos, meu jeito de ser responde através do meu corpo tudo que sinto e não demonstro. O corpo passa a responder o que a boca não grita, os olhos não choram e a mão não esmurra ( ou a boca não beija, os olhos não brilham e a mão não afaga). Antes que achem que sou um robô, deixo claro que isso são situações determinadas com pessoas específicas, àquelas impossíveis, que o coração quer ter por perto, mas as circunstâncias as tornam intocáveis, insustentáveis, inviáveis... Todos esses “ins” que cabem a essa situação.

Claro que choro, que fecho a cara, que esperneio, que xingo, perco o controle, até porque, além de ser a caçula mimada (mimo esse bem tardio...), sou humana e tenho o direito de dar chiliques como qualquer outra pessoa, mas acontece que essas explosões surgem em momentos que nada dizem respeito ao que realmente sinto. É como se essas reações fossem momentos automáticos, já programados na minha cabeça. Um mecanismo para colocar para fora um choro, uma raiva, uma dor de outro acontecimento, mas que camuflo usando de um outro motivo banal qualquer. Lá no íntimo sei que os motivos são outros, mas não sei mais diferenciá-los, como se tivesse desaprendido a reconhecer os sentimentos. Eles se embaralham, as sensações se misturam... Amor torna-se dor, solidão torna-se tranqüilidade, sorriso torna-se desapontamento, preguiça torna-se medo, vitórias tornam-se vergonhas, prazer torna-se culpa, alegria torna-se remorso, carinho torna-se fraqueza, perdão torna-se covardia. Assumir que preciso de carinho torna-se a derrota que a cabeça sofreu para o coração. Assumir que gosto de alguém e que essa pessoa me machucou de alguma forma, torna-se raiva de mim mesma por ter sentido. Orgulho ferido torna-se eu.