sábado, 26 de março de 2011

Cão Abandonado.


Não, esse texto não é sobre um cão abandonado, mas foi o motivo que me fez querer escrever esse texto. Aqui em casa tem uma cadelinha. Volta e meia está sem comida, sem água, sem banho, arrastando suas vasilhas para que lembrem que ela existe e está ali. Eu, claro, perco a paciência e reclamo com a dona do bichinho, digo que a cachorra é maltratada, abandonada e só escuto a dona se desculpar com o cão, repetindo sempre a mesma frase: “Vem cá meu cãozinho, te amo, mesmo que eu não limpe seu cantinho ou te dê água e comida.”

Eu te amo, mesmo que eu não te dê atenção... Isso existe? Nessas horas eu paro e penso na vida dos que se dizem largados e esquecidos. Penso nas reclamações que escuto de muitos, quando falam que os amigos não aparecem, que estão enrolando para sair, que não dão atenção, que se sentem sozinhos, abandonados, sem perceber que dão o mesmo tipo de tratamento para os outros seres, independente de cachorro ou humano. É simples responder alguém com um eu te adoro, sem perceber que para adorar ou amar, não basta só falar, tem que demonstrar. Não quero dizer que as frases são ditas sem sentimento, claro que existe um sentimento ali, mas cadê a parte que a gente arregaça as mangas e faz? Muitas foram as vezes que escutei pessoas dizerem querer cuidar de mim, me proteger, me colocar no colo... Cadê?! Muitas foram as vezes que eu mesma disse querer abraçar, beijar, estar do lado, podendo realmente estar... Cadê?!

Como é possível receber um cuidado, se você mesmo não vai lá e cuida, doa atenção a quem necessita naquele momento? Como querer receber algo que você mesmo não dá? Será que escutar um “gosto muito de você” basta para alguém que no momento quer um abraço? Como passar verdade em uma frase dita, quando as atitudes demonstram que você não liga para aquela pessoa, que diz da boca pra fora? Que hipocrisia é essa de reclamar da falta de carinho dos outros, quando nós mesmos não damos carinho a ninguém? Não cuidamos dos mais próximos, dos que estão do nosso lado, reclamamos quando nos alertam sobre nossa insensibilidade, e esperamos dos que estão de fora amor, afeição, atenção, carinho... Estamos nos acostumados a dar e receber frases de demonstração de afeto sem o ingrediente principal, o próprio afeto. Estamos nos acostumando com frases de impacto, bonitas de serem ditas, tocantes, porém sem valor, ocas de atitudes e demonstrações. Uma caixa com uma belíssima embalagem, mas vazia.

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